No ano de 3021
quando chegar a hora de sua morte
e as leis de pedra do mundo
ainda não houverem se diluído
no gotejar das águas doces
de sua rebeldia,
espero que arrebente uma veia
de seu punho sempre erguido
contra o deserto afetivo das mercadorias
e que volte a encher
os mares secos pelo aquecimento global
para unir os continentes
e os subversivos que confabulam
em árabe e em catalão
em notas musicais flamencas e em versos secretos
escritas em barcos de papel
que atravessam esses oceanos vermelhos
para aportar ao pé de sua tumba
ilha em que eu serei o único habitante
escavando a areia dourada de sua carne
para sacar a luz tesouros escondidos
por seus pensamentos anarquistas
como um pirata sedento pela riqueza imaterial
de seus devaneios revolucionários.
No ano de 3021
quando chegar a hora de minha morte
e as leis de pedra do mundo
ainda não houverem se diluído
no gotejar das águas doces
de minha rebeldia,
espero que arrebente uma veia
de seu punho sempre erguido
contra o deserto afetivo das mercadorias
e que inunde os aquários secos
aonde repousam em suas imensas cadeiras
adornadas de ouro presidentes múmias
esculpidos em golpes de estado
com suas expressões de soberba
conservadas por formol e por petróleo
criminosos afogados pelas águas vermelhas de seu corpo
o cristal das paredes despedaçados
como a queda do reino estátua
de ditadores criados pela caneta de um poeta burocrata
e que você possa navegar
no transbordamento líquido de sua raiva
até o pé de minha tumba
como uma bruxa renascida do fogo apagado da inquisição
para enviar a meu lado uma oração pagã
em homenagem aos esquecidos da guerra de classes
para com cada pedaço dessa memória destroçada
deixar uma poesia mosaico libertária
esculpida em minha lápide.
No ano de 3021
quando chegar a hora de nossa morte
seremos espíritos livres
dançando esfumaçados as melodias fantasmas
composta por nossos amantes em vida
sobre a revolta definitiva
que vai se abater sobre o mundo.
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